quinta-feira, 6 de maio de 2010

Reflexão Ingénua sobre a Ciência


Eu acredito que a explicação última da natureza, assim como das suas leis, remontam à própria natureza da matéria e ao seu ordenamento lógico. Acredito que este ordenamento lógico é o resultado único das propriedades da matéria e subsequentemente da composição das partículas que a constituem. É por causa disto que acredito que a indução deve ser o método válido de descoberta de novas teorias, porque é o que permite que a ciência detecte os padrões da natureza revelados na experiência. Reconheço que os esforços de Reichenbach, Carnap e Hempel ainda não são suficientemente satisfatórios na procura de uma lógica indutiva mais cuidada, contudo, chamo a atenção que a indução (apesar das suas fragilidades) é algo que continua a funcionar, e também creio que irá funcionar perpétuamente. Além de que funciona tanto para o contexto de descoberta como de demarcação do que é e não é ciência, além de ser também na minha opinião a justificação das teorias.
Poder-se-ia objectar que o contexto de descoberta de novas teorias deveria pertencer ao domínio da psicologia, e que exemplo para isso tanto é o da descoberta do benzeno, fruto de um sonho de um cientista, ou até o princípio atómico encontrado já por Demócrito. Contudo, também observo que existem pessoas que acertam a chave do euromilhões e que a probabilidade de tal acontecer é de 1/76’275’360, creio que foi o que aconteceu nos exemplos dados anteriormente, pois sabemos que podem existir Crenças Verdadeiras sem estarem Justificadas.
Mas, acredito eu que devido às propriedades da matéria, assim como do seu ordenamento lógico, as leis da física só podem ser de uma maneira e não de outra, ou seja universais e necessárias, e o mesmo se diga para a química, ou para a biologia. É por isso que não creio que o contexto da descoberta deva estar separado do de justificação. Porque se a matéria, e as leis, são universais e necessárias, é lógico que a sua descoberta esteja associada logicamente com a sua justificação, da mesma forma que ao encontrar uma centena de pontos que descrevem uma recta poderei induzir uma equação (y = mx+b) e depois poderei reconstruir racionalmente os mesmos pontos.
Acredito também que a qualidade das induções que fazemos está dependente não só das nossas faculdades, mas também dos instrumentos que nos permitem fazer observações, e com isso ampliar tanto o nosso alcance como a precisão das nossas observações até à mínima partícula atómica.
Como poderia Galileu ter chegado às suas conclusões sem o seu telescópio? Como poderia Keppler ter feito uma boa indução ao descobrir as três leis fundamentais da mecânica celeste sem as observações de Tycho Brahe. Porque é que as ciências andam juntas, e dependem umas das outras? Porque é que avançam tanto linearmente como por saltos?
Porque para avançarem necessitam de determinados conhecimentos que permitam determinadas observações, que facilitem o encontro dos padrões da natureza e com isso o progresso científico. Por exemplo, como poderia a Física de Partículas avançar nas suas observações sem os avanços da mecânica, da computação ou da robótica? E como poderia avançar a Imagiologia Biológica sem os desenvolvimentos da Física de Partículas? Ou seja, é com o acumular de dados observacionais cada vez mais precisos que as ciências se inter ajudam, que o conhecimento se constrói de forma a produzirem se observações ainda mais rigorosas, que irão possibilitar novas descobertas, que por sua vez conduzirão a observações ainda mais precisas, que possibilitaram novas induções que nos ajudem na descoberta cada vez maior da natureza da matéria como do seu ordenamento lógico.
Por isso, o que eu pretendo é que a Ciência explique as propriedades da matéria que causam as leis e os padrões lógicos da natureza, e que isso pode ser realizado por um modelo verificacionista.

Ricardo Barroso

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