sábado, 24 de abril de 2010

Um pouco de Consciência em Descartes


Apesar de estarmos actualmente conscientes dos actos presentes da nossa mente, só estamos potencialmente conscientes das suas capacidades e faculdades. Descartes abre espaço para pensamentos potencialmente conscientes, expondo que as pessoas normalmente não conhecem totalmente o que crêem1, apesar de ele concordar que : “É evidente que não pode haver nada na mente, na medida em que é uma coisa que pensa, de que não se esteja consciente”2, ele imediatamente qualifica isto ao apontar que “ (…) nós não podemos ter nenhum pensamento do qual não estejamos conscientes no mesmo momento em que o estamos a ter (…)”3 isto porque muitos pensamentos não ficam retidos na memória, e por isso não julgamos estar conscientes deles. Por exemplo, nós podemos ter centenas de pensamentos a cada hora, pensamentos incontáveis que ocorrem quando dormimos, e de que não nos conseguimos lembrar. Descartes atribuiu um conceito muito interessante para a consciência, um conceito que tanto tem espaço para as percepções que passam despercebidas, porque não ficam na memoria, e para percepções que são tão pequenas e obscuras que mesmo que deixassem rasto e continuassem a afectar-nos por associação com outras percepções, não poderiam ser distintamente recordadas, diz Alanen:
“(…)the notion of thought is a simple notion that cannot be defined, it is clear on should avoid invoking consciousness as a definition of thought. I therefore take “thought” and “consciousness” to have different meanings for Descartes, and will treat “consciousness” or “immediate awareness” as a mark by which mental acts and states qualifying as thoughts are recognized and distinguished from other acts and states.”4

_____________
1. “(…) poucos há que queiram dizer tudo o que crêem, mas também porque muitos o ignoram; pois, em virtude de a actividade do pensamento, pela qual se crê uma coisa, ser diferente daquela pela qual se conhece que se crê, muitas vezes uma não acompanha a outra.” DM 3ª 64.
2. “Quod autem nihil in mente , quatenus est res cogitans, esse possit, cujus non sit conscia(…)” Quartas Respostas. AT VII 246. Tradução do Latim de Ricardo Barroso.
3. “(…) nec ulla potest in nobis esse cogitatio, cujus eodem illo momento, quo in nobis est, conscii non simus.”Quartas Respostas. AT VII 246. Tradução do Latim de Ricardo Barroso.
4. ALANEN, L. - Descartes’s Concept of Mind. London: Harvard, 2003, p. 83.

Ricardo Barroso

Sem comentários:

Enviar um comentário