A premissa fundamental da economia é que os indivíduos são motivados primariamente pelo seu próprio interesse. Isto não exclui necessariamente altruísmo, se o interesse de certos indivíduos for o bem dos outros; ainda que isto seja possível é certamente raro.
Tendo esta premissa em conta, quando as empresas multinacionais decidem estabelecer-se em países em desenvolvimento fazem-no no sentido de maximizar o seu interesse. Mais precisamente, diminuir os custos de produção de modo a aumentar os lucros. Pondo de forma simples, a mão-de-obra em países em desenvolvimento é mais barata e por isso as empresas estabelecem-se lá.
Tendo estes pontos em conta, quais serão as respostas das empresas à imposição de salários mínimos?
A primeira resposta das empresas será, obviamente, diminuir os custos de produção; neste sentido, menos trabalhadores serão contratados e o preço de venda dos produtos aumentará. Deste modo, quem é o prejudicado quando são impostas leis de salários mínimos? Uma vez que o preço dos produtos aumentou, alguns dos prejudicados são os consumidores que perdem o poder de compra. Isto afecta principalmente as classes que já têm pouco poder de compra. No entanto, mais grave e mais sério, os trabalhadores dos países em desenvolvimento são os principais prejudicados: menos trabalhadores serão contratados e, portanto, muito menos pessoas terão meios de subsistência. Tendo isto em conta, os defensores destas políticas têm de justificar as suas bandeiras com a fome de bastantes trabalhadores em países em desenvolvimento.
Qual é, no entanto, a solução para este problema? Apenas um boom económico nos países em desenvolvimento poderá melhorar a situação económica destes países. Este boom económico só pode acontecer se as barreiras de mercado nestes países forem quebradas. A solução é tão simples como abrir o mercado para que mais empresas se possam estabelecer e criar riqueza.
É factual que a imposição de salários mínimos, num país em que uma empresa multi-nacional se instalou porque a mão-de-obra era barata, vá levar a essa mesma empresa reduzir pessoal ou até mesmo sair do país.
ResponderEliminarOra, agora sugerir/assumir que quebrar barreiras de mercado leva a um boom económico (que beneficie a maioria dos cidadãos) e sugerir/assumir que empresas multinacionais ao se instalarem em países em desenvolvimento criem riqueza (que beneficie a maioria dos cidadãos) é perversamente falacioso.
Tanto o flashmob "Story of Stuff" www.storyofstuff.com , como o documentário "The Corporation" ilustram isso definitivamente.
De forma menos directa, o filme "Zeitgeist Addendum" zeitgeistmovie.com/add_portug.htm também oferece uma perspectiva esclarecedora sobre este assunto.
Obrigado pelo comentário Dario.
ResponderEliminarDuas questões:
1) Qual é a falácia presente no raciocínio?
2) Qual é o argumento dos documentários para que se possa discutir se é uma alternativa consistente ou não?
Obrigado
Luís
1 e 2 estão interligados. Tendo relação com destruição ambiental e/ou económica causadas por empresas multinacionais, geradoras de privação para a população, deixando-a vulnerável à exploração (salários menos que mínimos e condições de trabalho prejudiciais à saúde) por parte de outras empresas multinacionais.
ResponderEliminarMas não me sinto capaz de escrever um texto de qualidade baseado neste assunto, comparando com o trabalho já feito no Story of Stuff, ou no The Corporation.
Era deveras interessante ires ver um ou outro, e depois vires cá desconstruí-los.
As empresas não geram privação para a população. A prova disso é que os indivíduos dessas populações decidem deixar os empregos que têm para trabalhar nas multinacionais. Ou seja, se eles estavam numa situação má, para aceitarem o novo emprego só pode ser porque as multinacionais oferecem melhores condições do que as empresas nacionais ou o estado.
ResponderEliminarOs indivíduos são vulneráveis porque os mercados são demasiado fechados. Caso haja mais empresas no mercado, a mão-de-obra tem de ser mais bem paga para conseguir os trabalhadores. Além disso, sublinho o que disse atrás: os trabalhadores desses países têm melhores condições quando estas empresas abrem.
A questão das condições de trabalho prejudiciais à saúde é uma questão que não está ligada aos salários mínimos, mas aos direitos dos indivíduos. No entanto, o mesmo se aplica aqui: mais empresas, melhores condições para os trabalhadores. A prova disso é que as multinacionais são as melhores empresas para se trabalhar nos países desenvolvidos (Exemplos: Microsoft no caso de Portugal; Google em vários sítios do mundo; MacDonalds no Japão).
Luís
Bem, só pelo "sake or argument" pois estou pessimista que algo produtivo saia daqui:
ResponderEliminar"destruição ambiental e/ou económica (...), geradoras de privação para a população", referia-me à destruição, que gera privação, não a empresa directamente. Mas mesmo assim, discordo de:
"A prova disso é que os indivíduos dessas populações decidem deixar os empregos que têm para trabalhar nas multinacionais."
Deixa-me dizer que eu não sei se o que disseste é verdadeiro ou falso, e que portanto, apenas do meu ponto de vista, parece-me ser em geral falso. Parece-me mais provável que sejam em geral os desempregados a preencherem as vagas de uma multinacional, quando ela abre num país sub-desenvolvido.
E ora, se houver muito desemprego num país sub-desenvolvido, parece-me óbvio que uma multinacional que abra uma fábrica, vá invariavelmente tender a cobrar salários mínimos, dado as leis do mercado (mais desempregados que vagas).
E para finalizar, "A prova disso é que as multinacionais são as melhores empresas para se trabalhar nos países desenvolvidos", parece-me para este argumento ser irrelevante as condições de trabalho dadas pelas multinacionais nos países desenvolvidos, dado que a exploração e miséria de que falo se situe nos países em desenvolvimento.
PS: Tenho pena que não vejas o Story of Stuff ou o The Corporation e então venhas cá desconstruí-los, dado que não se tratam de argumentos de "um realizador", mas um sumário de argumentos de uma miríade de fontes.
"destruição ambiental e/ou económica (...), geradoras de privação para a população", referia-me à destruição, que gera privação, não a empresa directamente. Mas mesmo assim, discordo de:
ResponderEliminar"A prova disso é que os indivíduos dessas populações decidem deixar os empregos que têm para trabalhar nas multinacionais."
Deixa-me dizer que eu não sei se o que disseste é verdadeiro ou falso, e que portanto, apenas do meu ponto de vista, parece-me ser em geral falso. Parece-me mais provável que sejam em geral os desempregados a preencherem as vagas de uma multinacional, quando ela abre num país sub-desenvolvido"
Mas parece-te ou tens dados que revelem o contrário? É que aquele livro que te sugeri suporta o que estou a dizer.
Além disso, mesmo que eu esqueça este facto, o meu argumento é que abrir o mercado aumenta a concorrência de empresas o que faz subir os salários mínimos a um nível superior do anterior. Por isso é que o mercado livre é melhor, enquanto que se os impostos forem muito altos, há menos investimento.
Se as pessoas nestes países não têm emprego e o governo deles e empresas nacionais não conseguem desenvolver o país, não vejo qual é o mal das empresas multinacionais criarem esse emprego.
"E para finalizar, "A prova disso é que as multinacionais são as melhores empresas para se trabalhar nos países desenvolvidos", parece-me para este argumento ser irrelevante as condições de trabalho dadas pelas multinacionais nos países desenvolvidos, dado que a exploração e miséria de que falo se situe nos países em desenvolvimento."
A relevância deste argumento é que as multinacionais não são aqueles monstros que bastantes pessoas obcecadas com o capitalismo querem fazer parecer. Quis apenas mostrar um sintoma da economia mundial, nomeadamente, melhores empresas dão, normalmente, melhores condições.