quinta-feira, 8 de abril de 2010

Consciência dos Mundos

Tendo por base a proposta epistemológica de Nelson Goodman, podemos entender que para o autor uma concepção anti-intelectualista, que opõe a arte à ciência, se torna insuportável. Então as velhas dicotomias são vencidas e mescladas. Já não encontramos a beleza, a intuição e a emoção, separadas da verdade, racionalidade e do saber. Porque nenhuma destas propriedades é privilégio nem da arte, nem da ciência.
Para Goodman a tarefa comum a ambas é a construção de mundos através de sistemas de símbolos e o valor de qualquer delas depende da correcção das construções realizadas. “Ambas podem ser correctas e incorrectas de diferentes maneiras; ambas podem ser correctas e incorrectas de diferentes maneiras; ambas podem ter um domínio de aplicação universal: para ambas existem critérios de aceitabilidade, e testes e experiências a que podem ser submetidas; em nenhum caso há garantias definitivas.”
Ora isto não significa que a arte e a ciência sejam idênticas. Unicamente, que as diferenças tradicionalmente apontadas devem ser subjugadas. Isto tornou-se sobretudo evidente com a tentativa de compreender a arte contemporânea mais recente.
“Apesar de tudo, os impressionistas, expressionistas e cubistas, e mesmo a abstracção geométrica, podiam ainda ser olhados À luz dos critérios da tradição. Mas outro tanto não acontece com os ready-made, os happenings ou a arte conceptual que se não conformam com qualquer reajustamento desses critérios.”
Assim como acontece com a física quântica, estes tipos de arte exigem categorias novas para a sua intelecção. E a diferença relevante entre a arte e a ciência deve ser encontrada nos processos simbólicos utilizados.

Ricardo Barroso
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GOODMAN, Nelson - Modos de Fazer Mundos. Porto: Edições ASA, 1995, p. 17.

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